quinta-feira, 21 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Sandra Ayana e o Eremita.


Olá pessoal. Continuando nossa blogagem coletiva, hoje contamos com a colaboração de Sandra Ayana. A Sandra tem uma abordagem muito bacana do Petit Lenormand, relacionando as combinações entre as cartas com textos e poemas de pura sinestesia.
Sandra por ela mesma:

Sou formada em jornalismo e estou em fase de conclusão da Faculdade de Teologia Umbandista. Comecei meus estudos de tarô aos 13 anos de idade com o Marselha - até hoje, o meu preferido. Sou autodidata. Desde então, me interessei por vários ramos da espiritualidade, passando pelo esoterismo, kardecismo, e há 20 anos sou adepta dos cultos afro-brasileiros, umbandista.  A astrologia e o baralho cigano também me acompanham na trajetória espiritual e profissional. Trabalhei em várias empresas de consultoria esotérica, que me trouxeram uma bagagem de milhares de atendimentos realizados. Atualmente mantenho um blog de baralho cigano, realizo atendimentos através do telefone  (11) 2959-4856 e do MSN ayanatarot@hotmail.com e faço consultas presenciais à domicilio.


"Tudo se transforma no seu contrário"
Heráclito

Gosto de pensar no encontro do Eremita com o Louco como um ciclo que se fecha e se abre num eterno movimento nos reinos do aprendizado do espírito. O Louco é a desordem, o caos que encontra direção ao cair na profundidade de si mesmo e começar sua viagem espiritual. E o Eremita, por outro lado,  significa a experiência daquele que percorreu todo o caminho e se iluminou. Traz em si a sabedoria e o domínio das energias, carregando sob o seu manto a vivência de todos os arcanos. O Eremita volta ao início para encontrar o Louco e recomeçar uma nova jornada de crescimento espiritual, pois sua sabedoria é do Espírito. Ele é o Iniciado, o arcano do Tarô. O Eremita finaliza um conhecimento para começar de novo.  Sallie Nichols, no livro Jung e o Tarô, cita o brilhante pensamento do psicanalista sobre este arcano: "o arquétipo do espírito... o significado preexistente escondido no caos da vida".
Analisando um pouco parte do simbolismo dos arcanos acima, vemos que o bastão  - vontade e poder de ação -  do Louco aponta para o futuro. No Eremita, o bastão  se verticaliza e toma a forma de um cajado, axis mundi do arcano, em perfeita ligação com os planos da matéria e do espírito.
A vegetação na carta do Louco está em formação, algumas ainda sem cor, enquanto no Eremita a ausência de vegetação indica um ciclo de vida que acabou - nesta comparação. Dentro de outro plano de entendimento do Eremita, a ausência de vegetação pode indicar a  consciência  de que todas as formas de vida pertencem a uma unidade, motivo da 'figura viva' ocupar, sozinha, todo o espaço da carta. É importante, também, notar a transformação que ocorre na touca do Louco para a touca do Eremita, as cores, as roupas, etc. Deixo essas observações para o livre pensamento do leitor.

Representado nos tarôs renascentistas como "Diógenes em busca de um homem", parte do significado simbólico do Eremita refere-se ao filósofo grego. Diógenes tinha como casa um grande barril e caminhava maltrapilho pela cidade com uma lamparina acesa, mesmo durante o dia, dizendo que procurava um 'verdadeiro homem'. Aquele que vivia de acordo com a natureza. Desprezava as convenções sociais, a vaidade, o poder, e buscava uma vida natural no isolamento, sem dependência de luxúria. Fazia da pobreza a sua virtude e era contrário à propagação pública do conhecimento. Adiante, na mesa de consulta, citaremos a Síndrome de Diógenes.

O Eremita é o conhecimento transformado em sabedoria através da experiência e do tempo. Viver nosso Eremita significa um período de introspecção, de isolamento e afastamento do mundo exterior para encontramos a nossa verdade, os nossos valores. É meditar e viver o sagrado dentro de si mesmo. É encontrar o Mestre interior. Gosto de chamá-lo de ilustre desconhecido, pois é longe dos holofotes que a sua luz brilha. A luz da sabedoria do espírito. 
Astrologicamente associado ao planeta Saturno, o Senhor do Tempo e dos Limites, o Eremita é solitário, velho e lento. Ele causa atraso nas previsões pela necessidade de cautela e paciência para amadurecer a idéia antes da conclusão do objetivo. Não existe pressa para o Eremita, apenas o aperfeiçoamento.



O Eremita na mesa de consulta:

No plano espiritual, ele é o Guardião, o Grande Iniciado, o Portador da Luz (Luz se fez). Conhece o caminho das trevas e transita livremente com a luz da sua consciência, simbolizada pela lamparina. Quando digo trevas, me refiro à escuridão do inconsciente e da ignorância. Ele ilumina o caminho para aqueles que quiserem seguí-lo. Saber, querer, ousar e calar são seus atributos. Traz sabedoria e proteção.
No mental, é aquele que busca o conhecimento sempre apoiado na razão. É o estudo, a investigação, a prudência. Não se limita aos livros, seu saber vem da experiência. É o conselheiro que sugere o que fazer através do seu exemplo de vida. A filosofia. Também pode indicar teimosia e apego às suas próprias idéias.
No amor, significa tendência à solidão e fidelidade a si mesmo. Revela um amor maduro sem entrega às volúpias da paixão, pois conhece as armadilhas do desejo. Sexualmente experiente, o Eremita pode indicar desde sexo tântrico à perda total da libido. O sexo solitário também é representado por este arcano. Timidez. Amor por pessoas mais velhas.
Na saúde, o 'Velho" que surge na carta, representa os ossos, joelhos, dentes, pode indicar artrite, reumatismo e doenças pertinentes a idade avançada. Por outro lado, também indica vida longa. Carta negativa para gravidez. Na área psicológica, refere-se à Síndrome de Diógenes e os sintomas são: isolamento social, abandono da higiene, viver voluntariamente em condições de pobreza, entre outros.
No material, o arcano pode significar pobreza ou dificuldade financeira. No entanto, ele também indica o acúmulo de bens sem o gozo dos prazeres que o dinheiro proporciona. Como a pessoa que guarda dinheiro a vida inteira e vive como pobre. Sovina. A carta favorece os bens imobiliários e as economias.
Esse é um pouco do meu Eremita, que agora se cala.

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