domingo, 3 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Zoe de Camaris e O(s) Enamorado(s)


Olá pessoal. Continuando nossa blogagem coletiva, nessa Lua Nova em Câncer, temos a colaboração de Zoe de Camaris. Conheci a Zoe num daqueles acasos que só sincronicidade define. Desde então, conversamos pela net - esse meio que nos aproxima tanto e facilita tanto conhecer pessoas, que, de outra forma, só poderíamos conhecer no campo onírico... Responsável pelo blog Zoe Tarot, compartilha conosco hoje um texto seu previamente publicado aqui
Ah, em tempo: A Zoe iniciou um curso de Tarot. Vale entrar em contato para acompanhar a turma. 
Próxima postagem: A Carruagem, por Giane Portal.



Zoe por ela mesma:

Taróloga, professora de Lingüística e Literatura, estuda Antropologia do Imaginário, Filosofia e Prendas Domésticas por sua conta e risco. 

Zoe é formada em Letras pela PUC-Paraná e pós-graduada pela UFOP-MG, onde foi professora de Lingüística. Trabalhou como redatora e revisora em agências de publicidade e foi coordenadora da Gibiteca de Curitiba. Começou seus estudos relacionados ao Tarot em 1984 como auto-didata. Mais tarde participou de cursos no Rio de Janeiro e em sua cidade, Curitiba, unindo interesses afins em Mitologia e Antropologia do Imaginário.
Em 1991 foi convidada para ministrar uma palestra na Semana da Mulher, em Termas de Jurema-PR. Nessa ocasião, foi despertado seu interesse pela dimensão sagrada do feminino, que mais tarde se traduziria no livro Cy, a Deusa do Brasil, ainda inédito.
Incluiu o Tarot nos seus estudos de especialização no intuito de revalidá-lo como um sistema de linguagem visual adequado às prática interdisciplinares, na leitura do universo cinematográfico, literário e das Artes Plásticas.
Em julho de 1998, cursando o mestrado, apresentou a palestra O 14º Mistério - a transubstanciação, baseando-se em convergências e analogias entre as lâminas do Tarot, a Alquimia e imagens sacras do barroco mineiro no Congresso Internacional Ouro Preto 300 anos - Instituto de Filosofia, Artes e Cultura-UFOP.
No mesmo ano, foi autora de uma comunicação no ICHS-UFOP intitulada Similaridades alegóricas: o Triunfo e os Trunfos traçando relações entre as lâminas do Tarot e o Triunfo Eucarístico, procissão barroca de 1733.
Escreve para diversos sites da Internet:

Mora na cidade de Curitiba. Além do seu "nom de plume", atende também por Monica Berger. 


celeuma
onde se lê uma
leiam-se duas

P. Leminski

Amantes
Ancient Italian

Ele pode ter 19, 35, 46 ou 54 – não importa. Seu impasse é o mesmo. Está entre três chamados: o da Beleza, que é sua Arte; o da Mãe, que é de onde ele veio e sempre tende a voltar; e o da Mulher, que é para onde ele deseja ir e de quem costuma fugir. Seu movimento é um eterno vai-e-vem mental, confuso entre os estímulos diversos.

Para tornar-se um Homem, precisa, antes de mais nada, assegurar-se da sua Arte e reconhecer naquilo que o sustenta o seu grande e primeiro amor. A Arte nunca irá abandoná-lo. Propicia ao Enamorado um sentido ético para a jornada. Aí então, o menino confuso pode encontrar o fio de Ariadne, tomar seu Carro e colocar-se a caminho de uma solução. Fundamental, o primeiro passo.

Alguns, peterpânicos, nunca saem do impasse. Repetem-no por toda vida, mudando as personagens. Uma mulher, aquela que não ocupa seu desejo romântico, no papel de esteio. A Mãe, a Mestra, a Esposa (leia-se aí, alguns casamentos falidos em que a relação homem/mulher mais parece uma relação filho/mãe). Um pilar cimentado pela necessidade de alguma segurança. Laços de família ou laços religiosos bem atados. Religiosos sim, porque não raro os laços estão amarrados no sentimento de culpa com nó cego.

A Outra é aquela que ocupa o lugar de risco, a namorada-novidade sem a qual ele não vive - nem que seja num movimento imaginário. Sua idéia erotizada de mulher lhe traz a ilusão de movimento. E ele sempre troca de revistinha. Uma hora é loira, depois é morena. Desiste ao primeiro sinal de dificuldade ou encara a situação apenas como mais um desafio.

Para escapar do desespero inaugural o menino tem sua Arte, onde se lança com energia. Alguns mais, outros menos. Aos que a Arte não toca, ao invés do Anjo-Menino, têm o Anjo-Diabo. E ele os domina através de seu riso entorpecente. Aqueles que reconhecem sua Arte sobem o Himalaia, praticam esportes radicais, são admiráveis e admirados pelo seu trabalho mas ainda assim, continuam meninos. Alguns ainda, no melhor estilo “O Louco”, caminham pela borda de viadutos completamente ébrios.

Diz-se que depois de feita uma escolha, não se deve olhar para trás. Que o caminho rejeitado nunca mais deve ser sequer cogitado. Isso soa assustador: - Quer dizer então, que não vou poder voltar?

Camile Paglia, em Personas Sexuais, é de uma clareza impressionante quando diz que o homem obedece ao caminho ditado pela direção do falo – sempre em frente, quando rijo. Ao perder a rigidez, volta para o lugar de onde veio. O eterno vai-e-vem masculino, uma metáfora do ato sexual.

Essa trama que triangula o menino é onde algumas mulheres se enredam. Por não compreenderem o mecanismo, perdem o entendimento. E se o entendem intelectualmente, não significa que o tenham introjetado. A mulher, que até aí também é só uma menina, ou está ocupando temporariamente o lugar de uma menina, só se liberta da teia quando encontra um homem. Um homem que tenha superado o imperativo do impasse biológico. Que tenha assumido seu lugar no Carro, que saiba para onde se encaminha. Que possa granjear-lhe a admiração pela sua força de vontade.

Talvez essa força masculina tão desejada pelas mulheres precise ser, antes de tudo, encontrada dentro delas próprias. E que este encontro lhes permita, num segundo momento, reconhecer as diferenças entre um homem e um menino.

O menino, que num primeiro momento traz a graça de Eros, em pouco tempo mostra que não sabe para onde ir. Seria a confusão, admirável? E sobrevive o amor, ou mesmo a paixão, sem a admiração? Talvez a compaixão, não o amor. Ou talvez a ilusão de amor ainda perdure por um bom tempo na insistência da alma feminina e faça com que mulheres aparentemente maduras percam o sono. Não entendem “aonde ele quer chegar” por que ele mesmo não sabe “aonde” quer chegar. O menino emite sinais confusos. De um lado mostra que gosta, e é real. De outro, que não lhe interessa. E também é real. Sabedoria do cancioneiro popular: a verdade mesmo é que ele não sabe o que quer.

Um homem não anda em zigue-zagues. Coordena seus cavalos de força na direção da sua vontade mais íntima. Pelo menos, descobriu o que deseja e deixou de se iludir com o que “pensa” desejar. Pode optar também por eleger a sua dúvida como verdade. E aí, num sentido romântico, dá-se como perdido. Se for um forte, assumirá sua opção pela dúvida com todas as letras. Sem medo. E quem gostar dele, gostará mesmo assim. Um ato de coragem a que meninos não se dispõe.

Outro dia, comentei com um colega tarólogo sobre o excesso de questões que nos são trazidas com relação a assuntos sentimentais. Brinquei ao propor que criássemos uma tiragem complexa e destinada, exclusivamente, a responder a pergunta básica, feita por mulheres dos 15 aos 70: “Ele vai voltar pra mim”?

A tiragem complexa funcionaria como forma de reflexão e mais nada. Porque a resposta é sempre mesma:- Você está envolvida na rede do sexto arcano. Se a questão se referisse a um homem e não a um garoto, a pergunta não precisaria ser feita. Pois a mulher teria em mãos sua resposta clara e certa.

Carruagem
Marselha Grimauld


Um homem sabe para aonde está indo. Mesmo que seus cavalos de força oscilem vez ou outra, ele sempre lhe deixará muito clara sua direção.

Meninos são adoráveis. Mas apenas para as meninas.


Zoe de Camaris
madrugada de 25 de janeiro de 2007


Algumas observações:

1 - O teor do artigo supõe a existência de distinções básicas que pontuam o comportamento dos dois sexos. Não que a mulher não sofra com dilemas, obviamente, apenas os vivencia de forma diferente. A mulher não precisa afirmar que é mulher. O homem sofre essa pressão constantemente. Andrógino é o anjo.

2 - Tive um diálogo intenso sobre esse artigo com o tarólogo Marcelo Ivanovitch, que me deu permissão para "editar" a nossa conversa. Isso será feito futuramente - é bacana ter um opinião masculina sobre o assunto. O ponto de vista do artigo é feminino - não pretendo ser científica, graças aos deuses.



Um comentário:

Quando um monólogo se torna diálogo...