quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Conversas Cartomânticas: Vera Chrystina e a Lua


Olá pessoal. Continuando a Blogagem Coletiva, temos cá a Vera Chrystina falando sobre a Lua. A Vera é uma das pessoas mais indicadas para falar sobre esse Arcano, justamente por vê-lo de forma prismática, multidimensional, ampla e irrestrita. E é essa visão que ela partilha conosco no Conversas Cartomânticas, partindo da historiografia da imagem para constatações pessoais - como deve ser; lemos, vivemos, lemos, vivemos, temos insights, vivemos. Nem sempre nessa ordem, mas oscilantes como a Lua.

Ela por ela mesma:

Sou paulista e me formei em Publicidade e Propaganda pela Faap.Trabalhei pouco tempo na área por sentir que realmente a Publicidade não era o que alegrava a minha alma. Há vinte e três anos coordeno um espaço, Oceano Centro de Estudos e Pesquisas onde faço atendimentos e dou cursos sobre o Tarô (Básico , Avançado) e faço atendimentos de Mapa Astral e Previsões. Participei de programas de TV ( Fantástico, Canal São Paulo) e em 2002 fiz o apoio logístico do Primeiro Congresso Brasileiro de Tarô, realizado no Mofarrej Sheraton e produzido por Nei Naiff, do qual fui também palestrante. Fiz o apoio logístico e também participarei como convidada do Primeiro Simpósio Paulista de Tarô, produzido também pelo querido Nei Naiff. Realizei conjuntamente com outros profissionais o Primeiro Encontro Esotérico em Ilhabela apoiada pela Prefeitura de São Sebastião. Primo pelo conhecimento vertical e pela transdisciplinaridade para validá-los.Sou contra a banalização rasa e desrespeitosa de como estes saberes tão antigos são tratados.Luto conjuntamente com profissionais sérios e afins pela preservação do Tarô e da Astrologia e faço isso com todo o meu Amor e Respeito.

Maiores informações sobre cursos e atendimentos:
e-mail : veratarot@gmail.com

tel: (11)3085-9994
http://agendadetaro.blogspot.com/

A LUA
Um dos Arcanos mais complexos do Tarô.

Tarô Este

Em alguns desenhos a Lua representa dois astrólogos fazendo cálculos sob uma lua minguante.  Em sua contextualização do ideário da Renascença, Alexandre Koyré informa que a astrologia era mais importante que a astronomia, e que os astrólogos gozavam de um status de respeitabilidade, exercendo inclusive funções públicas. Neste sentido está lâmina do tarô Este é bem clara e enciclopédica.

Tarô Mantegna

No baralho Mantegna a Lua é representada por Diana, deusa da caça. No tarô Visconti- Sforza mostra uma jovem descalça segurando o crescente similar à deusa. Ambos representam Diana, sem sombra de dúvida alguma.

Visconti-Sforza


Diana (Ártemis), a mais popular das deusas do panteão grego, inicialmente ligada à floresta e a caça e depois à luz da lua e a magia. O renascimento revitalizou os mitos gregos e romanos, nada mais natural que estampassem as cartas dos vários baralhos no século XV.
Essas foram as primeiras representações para a carta da Lua. Simples e claras. Talvez, por serem tão simples não agradaram os tarotiers que agregaram mais complexidade ao arcano XVIII.
Afirma-se pela história que o lagostim, as torres só apareceram nessas ilustrações a partir do séc. XVI e que os cães foram acrescentados no século XVII. Igor Pedrosa acredita que essa informação é insustentável à falta de exemplares mais antigos.





Pesquisando na internet descobri no site Beinecke Rare Book and Manuscript Library - Yale University Library, a folha Cary, uma folha sem cortes das cartas de tarô, provavelmente produzida em Milão por volta do ano de 1500. As imagens da folha de Cary são intrigantes, são muitos similares ao tarô de Marselha. Alguns historiadores percebem nessa imagem a figuras de crocodilos e não cachorros, o que reforça a ideia de que a mitologia egípcia estava presente no imaginário europeu, com o mito de Ísis e Osíris.


Fiz uma pesquisa extensa sobre esse arcano e deixo aqui as impressões mais usuais.




Linguagem Simbólica da Imagem


A Lua parece atrair (ao contrário do Sol) dezenove manchas de cor, em forma de lágrimas. Essas direções das gotas variam com os diferentes desenhos, mesmo entre as versões clássicas.
Embaixo da Lua há dois cães e, mais atrás, duas torres. Alguns autores reconhecem um dos animais como cão e, o outro, como lobo. Em primeiro plano, um lagostim (a maioria das descrições fala em “caranguejo”) encontra-se num tanque que, com suas bordas retas, parececonstruído; os dois cães têm a língua para fora, dando a entender que querem lamber as gotas. Do chão brotam várias plantas (ou apenas três, em algumas versões).
As duas torres parecem delimitar e proteger o espaço no qual se encontram os animais e o tanque. A Lua está ao mesmo tempo cheia e crescente; dentro desta última figuração vê-se o perfil humano. 


Rider Waite Smith


Palavras- Chave: Medo, embuste dos circundantes, erro, magia, ciúmes, impostura, perigo, amigos falsos, inimigos, queda em uma armadilha, desilusão, advertência, um relacionamento não sincero, viagens, inconsciente, confusão, sonhos, intuição, estados alterados de consciência, prosperidade, desconfiança, forte imaginação, gestação, fecundidade, situações do passado, falta de lógica, prosperidade.
O simbolismo lunar é vasto e se faz necessário por parte do tarólogo ou leitor delimitá-lo no plano perguntado para não haver erros de interpretação.  Por este motivo é uma das cartas mais complexas do tarô.
Uma impressão particular que tenho e é dividida por outros autores é que o símbolo lunar no tarô fomenta o medo que prevalecia nos homens sobre a mulher o feminino e os feiticeiros(as). Nas imagens da Idade Média europeia, os feiticeiros transformavam-se com maior frequência em lobos para irem ao Sabá, enquanto as feiticeiras, nas mesmas ocasiões usam uma liga de pele de lobo.


Mystic Dreamer Tarot


Posto aqui o primeiro texto que passei para o Emanuel sobre a Lua.


Pode parecer conspiração da minha parte. Nos meus estudos tenho notado como as imagens que simbolizam o feminino nas cartas do tarô foram alteradas. Alguns exemplos: a troca do arcano XI, a Força, feita por Arthur Edward Waite (Golden Dawn) até hoje gera muita confusão. Crowley denominou a Força de Luxúria??? Outros autores acreditam que a Força é o leão de São Marcos, outros o símbolo alquímico do sol, mas nenhuma associação com a mulher. Qual o motivo para tanto impasse?O mesmo aconteceu com o arcano XVIII, a Lua. No tarô Visconti - Sforza, a Lua é representada por uma dama descalça segurando a lua quarto crescente em uma das mãos e provavelmente faz referencia ao Mito de Diana, deusa da caça e personificação da Lua. Acredito que o medo das bruxas, em que muitos acreditavam que elas tinham um pacto com o Diabo e possuíam meios de prejudicar as pessoas, foi visto com exagero por parte dos ocultistas. A presença da deusa Diana no Tarô Visconti- Sforza faz muito sentido, já que no Medievo e no Renascimento o interesse pela cultura romana e grega ressurgiu. Fonte de inumeráveis mitos, lendas e cultos que dão as deusas a sua imagem (Isis, Artêmis ou Diana, Hécate...) a lua é um símbolo cósmico de todas as épocas, desde os tempos imemoriais até os nossos dias. A Lua diz respeito à fecundidade da mulher e à força fecundadora da vida, encarnadas nas divindades da fecundidade vegetal, animal, fundidas no culto da Grande Mãe. 
Buscando na Internet achei esse belo texto de Regina Meira Aguiar que reflete o meu modo de pensar, portanto, transcrevo suas palavras muito profundas:


Dellarocca

“O período matriarcal existiu e os mitos antigos provam esses dados. Havia uma religião da vida regulada pelos ciclos das estações e o que prevalecia era o amor, a procriação, a morte, o nascimento e o devir. Por volta do segundo milênio antes de Cristo, está documentada a superação do homem sobre a mulher e também está documentada a situação de inferioridade a que a mulher foi relegada em quase todos os âmbitos culturais e religiosos: “Não mais o instinto religioso, mas a instituição religiosa”. Não mais a liberdade religiosa, mas a lei religiosa. As deusas são submetidas aos deuses”. Durante toda a história da construção do ocidente cristão, a mulher continua como suspeita e é mantida à distância como se fosse verdadeiramente e não apenas metaforicamente a origem dos males do homem. Não é à toa que a imagem de Diana foi suprimida no tarô de Marselha e em seu lugar foram desenhados, uma Lua sugando a energia terrestre, dois cachorros, duas torres e um lagostim ou caranguejo saindo de um tanque com aguas paradas indicando em seu nível divinatório: perigos, medo, excesso de imaginação, inimigos secretos, loucura, drogas, alcoolismo, instabilidade emocional, ilusões, enganos, ideias quiméricas, inconsciência, etc. Resumindo, até nas cartas do tarô é possível perceber a passagem de uma cultura baseada no predomínio da mulher, para uma situação de inferioridade a que foi legada, invertendo os sentidos dos símbolos, dando aqueles que representam o feminino, um sentido de vício, imaginação fértil e loucura. O Tarô traz em suas lâminas a lembrança da passagem da comunidade clãmica, onde a regra da mãe ordenava o grupo, para o período em que o poder masculino começou a acumular propriedades e descobriu que sua força e coragem podiam aumentar as suas posses. Essa mudança coincidiu com o início, do culto do sol, sob um sacerdócio masculino que veio substituir, os cultos da lua, bem anteriores, que permaneciam nas mãos das mulheres. É o arcano, o Sol do tarô que promete a glória, a prosperidade, a consciência, a realização com sucesso. Estranho não?


Bibliografia: 


Dicionário de Símbolos – Jean Chevalier e Alain Gheerbrant
Curso Completo de Tarô – Nei Naiff – Ed. Nova Era
Tarô Clássico – Stuart Kaplan
Tarô e Individuação – Irene Gad
Wikipédia
Ritual da Lua: O Eterno Retorno do Feminino – Prof.ª Regina Meira Aguiar

2 comentários:

  1. Excelente!! Vera Chrystina, como sempre, nunca deixando a desejar!

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  2. Bem interessante essa abordagem sobre o culto do feminino e o masculino, com as mudanças das laminas ao longo dos tempos, e me veio a mente que na propria ordem do tarot, ocorre essa coisa do homem tentando se impor a mulher, visto que a lua e sucedida pelo O sol, como um poder evolutivo, a ser buscado, a ser obecido.
    Muito bom o texto, bjs!

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