quinta-feira, 28 de março de 2013

A Jornada do Louco em sua Autodescoberta: O Enforcado


Olá pessoal. Após apreender a habilidade do Arcano anterior, o Herói se defronta com um teste. Certamente pensará ser um teste final, dadas as dificuldades de superá-lo; contudo, é o primeiro de quatro testes (como, no primeiro arco, tivemos na Sacerdotisa a primeira de quatro habilidades): um teste difícil, moroso. Necessário, porém.


A carta denota surpresa, terror. O horror, o horror, ser pego com a boca na botija. Culpado ou inocente, as circunstâncias não permitem defesas. Armadilhado, é melhor ceder que se defender. Um momento mais apropriado virá, e esse momento não é agora. Chore um pouco, e deixe ir.



Interpretações mais recentes (convenhamos: podemos estender um pouco o conceito de recente para um oráculo com séculos de uso) apontam para o mártir, para o injustiçado, para o que cede voluntariamente sua vontade para uma circunstância maior. Em outras palavras, o herói, metamorfoseado temporariamente em vilão. Todos somos vilões, afinal, dependendo do ponto de vista.


Pescaria no Sri Lanka. Enforcados e enforcamentos. 
Pendurados e arrebatamentos
[de um mundo, a outro]

E, numa metáfora pertinente ao momento, o que é a pesca senão a vivência do Enforcado para um peixe? Sair de um mundo conhecido e confortável para uma experiência desconfortável e assustadora, contra a vontade, sem entender o que acontece, sem motivação alguma (compreensível para ele)? Aprendendo com a metáfora, ser Pendurado nada mais é que sair de um mundo, para o outro, extremamente desconfortável, de ponta cabeça, up is down. Falávamos de peixes em outro arco do Conversas Cartomânticas, um arco literário que nos aproximava do Rei de Copas [parte I e parte II] Isso nos lembra, inclusive, de um conto de fadas bem conhecido, que traz a lição do Enforcado em suas escamas: a pequena sereia.


Waterhouse, "a Mermaid"

Dentro da nossa jornada junto ao Louco, já aprendemos a afastarmo-nos das situações para enxergá-las melhor, a aproximarmo-nos das situações para resolvê-las melhor e a resistirmos às situações quando elas não são do nosso agrado. Agora, aprenderemos a desistir delas. 
Essa é a lição que o conto da Pequena Sereia nos dá: Toda escolha é uma desistência per se. Algo se perde, com certeza, quando existe somente a perspectiva de alcançar o que se almeja. Curiosamente, como podemos apreender do conto, algo é obtido - por vezes, melhor que o desejo inicial.
Desistir não significa perder. Significa optar conscientemente por aquilo que nos parece mais adequado, confortável ou pertinente ao nosso momento, sem garantias. Como quando meditamos: desistimos do mundo exterior em função da paz interior. E aqui também, a escolha consciente permite a passagem sem dor, mas não sem desistência. Upside down.


Contudo, por mais que o Herói possa, parcialmente, evitar a dor desta carta ao aceitar seus eflúvios conscientemente, caminhar entre armadilhas para lobos, caçando flores entre cardos, não fará mais palatáveis os espinhos e menos lacerantes as dores, tampouco mais funcionais suas justificativas. Porque, afinal de contas, só mensura a Dor a quem ela toca, e só se conhece a Dor quando por ela se é tocado (uma lição que Sidarta Gautama aprendeu depois de homem feito). A dor do outro será sempre incomensurável, ainda que plenamente inteligível (para quem já foi tocado por ela pelo menos uma vez). E ter (ou pedir) desculpas não nos faz menos culpados. E perdoar ou desculpar não nos faz mais santos. Observar o Enforcado de longe não torna sua experiência mais doce. Vivenciá-lo conscientemente, contudo, ameniza os hematomas.
Se você tirou essa carta na posição de Separação, sugiro que você leia a história de Sidarta Gautama até o ponto em que ele foge do palácio. Algo ali vai lhe tocar sinestesicamente, confie em mim. Se você tirou essa carta na posição da Iniciação, suas dores atuais vêm com código de barras. E está na hora de ler, para entender o fio condutor dos mais recentes eventos. Se você tirou essa carta na posição do Retorno, está na hora de deixar para trás as justificativas e arrependimentos. Escolhas são escolhas. Seus passos lhe trouxeram até aqui. Eles levarão você a partir de agora para onde você desejar.
Os exercícios propostos e a bibliografia utilizada estão em um arquivo PDF. Para baixar, clique aquiPara outras imagens desse Arcano, clique aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quando um monólogo se torna diálogo...